Reflexões

Um falso avivamento – parte 2 de 2

Conhecemos pouco das estruturas materiais dos altares, sobretudo os falsos, que o Velho Testamento descreve, conhecemos melhor a matéria, o significado e o conceito, daqueles que serviam o culto verdadeiro ao Senhor. Deveriam ser de pedra ou terra, significavam a comemoração de algum acontecimento em que interviera Jeová, queriam dizer lugar de sacrifício, e o seu conceito genericamente era o da simplicidade.

De facto, a primeira perspectiva que temos sobre o altar do avivamento, é a da sua simplicidade. Doze pedras – doze tribos apesar do reino dividido – foram o número exacto, porque eram a medida estruturante da unidade. As pedras eram simples, não lavradas, eram as pedras toscas, retiradas do ambiente natural comum, mas pedras de que Deus se serviria, naquele momento. Para realçar a servidão das mesmas, o texto sagrado afirma que o «fogo do Senhor consumiu as pedras»( 18,38). Pedras queimadas pelo fogo, como material combustível, para reforçar, naquela circunstância, que só o Senhor é Deus, pedras utilizadas para a obra de Deus anonimamente, não pedras glorificadas. Do mesmo modo, um Avivamento é para benefício da obra geral do Senhor, para expansão e aprofundamento do Reino de Deus e não para a exaltação de pessoas.

A segunda perspectiva é a do altar restaurado, o que quer dizer que houve um passado de intensa adoração, de ortodoxia espiritual, um «primeiro amor». Esses tempos de consagração são vivenciados, no interior do breu triste de uma caverna, por um profeta desalentado, que reclama: «Os filhos de Israel derribaram os teus altares.»( 19,10). Chegados a esse ponto, a comunhão através da adoração estava quebrada, o altar reparado era sinónimo da retoma do caminho para o Céu, da religação com Deus. Israel tornar-se-ia de novo numa nação religiosa, no bom sentido, e teocrática.

Assim, podia retomar o nome de Israel, a identidade definida. (I Reis,18:30,31). E a identidade do povo de Deus com o próprio Senhor é que define a qualidade e a genuinidade do altar -«Com aquelas pedras edificou o altar em nome do Senhor» ( 18,32). Não poderia haver, não há e jamais haverá, avivamentos em altares estranhos e falsos, tão-pouco em altares por restaurar. O altar do Avivamento não é anónimo, nem abstracto, tem Nome.

No dia da festa de Pentecoste, a festividade judaica relembrava um passado de muitos nomes, por assim dizer, escravos no Egipto, passageiros no deserto, cultivadores de cevada, conquistadores de Canaã, reino de Israel, reino de Judá, cativos e exilados na Babilónia, etc.

Ao contrário, a manifestação do Espírito Santo, de que todos os presentes no Cenáculo foram cheios, a festa do avivamento pentecostal estava a preparar o futuro da Igreja, identificada com o Nome de Jesus Cristo. «Todos reunidos no mesmo lugar » interpretando o mandamento para a obediência e a unidade em torno já não da pessoa física do Mestre, mas da presença do Nome que é sobre todo o nome.

AVIVAMENTO MULTICULTURAL E MULTILINGUE

Através de um comunicado de imprensa, o Conselho Mundial de Igrejas, a propósito do Dia de Pentecostes do já distante ano 2003, mas no século XXI, afirmou que «a Igreja primitiva soube que haveria de ser uma comunidade internacional, multicultural e multilingue.» Esta afirmação, percebe-se pelo percurso histórico do CMI, pela diversidade e algum sincretismo, desde 1948, e por alguns dos seus equívocos, nos quais avulta a « busca e o afã ecuménicos » da sua comunidade de 342 igrejas.

Todavia a Igreja primitiva, iniciada no dia de Pentecoste, já possuia esse conhecimento transmitido aos apóstolos e díscipulos previamente. A verdade é que o seu sentido de Missão já estava pré-designado por Jesus Cristo como universal, faltava, na sua estrutura que começava, o revestimento e a emanação do Espírito Santo mesmo. «E ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra » ( Act 1,8). Tal função de testemunha implicaria comunicação directa, de facto multilingue, e, assim desde o início, com as várias mensagens cada uma na língua nacional que Cristo derramou através do Espírito Santo, linguagens diferentes mas não polissémicas, porque todas possuiam o mesmo significado e o mesmo sentido: «falar das grandezas de Deus». ( Act.2,11)

Em síntese, partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Capadócia, Ponto, Ásia, Frígia, Egipto, Líbia, cretenses e árabes, foi esta diversidade de gente e de culturas que o Evangelho atingiu, no dia do Pentecoste, tornando-se assim mensagem redentora global até hoje.

O próprio Pentecoste cristão, à semelhança da culminação da festa das colheitas judaica, seria também de uma incontável Colheita, que ainda continua nos nossos dias até à segunda vinda do Senhor.

Finalmente, o altar do Avivamento – a Igreja de Cristo -, por assim dizer, pressupõe unidade como princípio, unidade na obediência, unidade na doutrina, e não globalização de várias crenças, de sincretismos religiosos que até se anulam entre si, com o intuito de formar uma só família na fé.

 

© João Tomaz Parreira,
Poeta

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